CCZ: Tripoli confessa sua tristeza. E insiste: lá não pode ser abrigo. PDF Imprimir E-mail
Ao abrir a audiência da Comissão de Estudos sobre Animais, no dia 25 de março de 2009, no Plenário da Câmara Municipal, o Vereador Roberto Tripoli (PV), ainda impactado pela visita realizada ao Centro de Controle de Zoonoses dois dias antes, confessou sua tristeza pelo que viu e sua preocupação com o descaso por tantas vidas.


A Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo, foi instalada na Câmara a partir de requerimento do Vereador Tripoli, que a preside e é composta ainda por Aurélio Miguel (PR), relator; e pelos vereadores: Gilberto Natalini (PSDB), Bispo Atílio (PRB) e Italo Cardoso (PT).

Segundo o vereador e ambientalista Tripoli, que preside a Comissão, “me sinto muito triste, cada vez mais preocupado com aquela situação, com os animais. Vimos fezes de rato em vários lugares; imaginem fezes de rato num Centro que controla roedores, que controla zoonoses. E o gerente do local disse que não tinha problema nenhum, que eram ratos de telhado. Imaginem os cães presos, convivendo com ratos”.

“Nos canis coletivos, minha assessora Regina chamou a atenção para uma cachorro muito debilitado, visivelmente com problemas. Não se achava nem veterinário para socorrê-lo. Infelizmente, quando ele finalmente foi retirado do canil, constatou-se que estava com o cérebro comigo por bicheiras e o cão teve que ser sacrificado. Foi chocante. O pobre animal estava no Centro desde agosto; como ninguém viu a sua situação? O CCZ não é um abrigo de animais, não pode ser. Temos que estudar de que forma acabar com isso, de separar do controle de zoonoses a atividade de abrigar animais. Na verdade eles tem que ser reabilitados. Estou fazendo um projeto de lei nesse sentido”, revelou Tripoli.

AINDA SE MATA.
E MUITO.

O relator da Comissão, vereador Aurélio Miguel, observou: “deveríamos ter vários abrigos municipais, recursos existem, é uma questão de saúde pública. São Paulo precisa dar o exemplo nesta situação”. Miguel falou ainda da sua preocupação com alguns dados que obteve durante a visita ao CCZ, relativos à eutanásia de cães e gatos.

Os dados dizem respeito somente a janeiro, fevereiro e parte do mês de março, até o dia da visita. Neste período entraram no CCZ 746 cães e 149 gatos; foram adotados 30 cães e 112 gatos. Foram a óbito 37 caninos e 5 felinos.

Os números da eutanásia surpreendem e a Comissão de Estudos já solicitou, oficialmente, dados a respeito: de janeiro a março foram eutanasiados 706 cães e 26 gatos (dados parciais, pois o mês não havia fechado). A lei estadual que proíbe o sacrifício de animais saudáveis, permite a eutanásia dos doentes e daqueles que não conseguiram ser socializados para uma possível adoção.

Detalhe: não existe qualquer trabalho de socialização para animais que dão entrada ao CCZ e continua intensa a entrada de animais da raça Pit Bull e seus mestiços, que depois de 90 dias de “observação” acabam sacrificados, considerados incapazes de conviver com uma família.

Os dados relativos aos cavalos são os seguintes: entraram no CCZ entre janeiro e março 28 equinos e 8 deles foram eutanasiados.

UMA COMISSÃO FUNDAMENTAL

O médico e vereador Gilberto Natalini (PSDB) manifestou-se frisando que esta Comissão de Estudos é fundamental para a cidade de São Paulo, tanto do ponto de vista da defesa dos animais como da saúde pública.

Natalini lembrou que foi Secretário da Saúde em Diadema e, na época, providenciou a construção de um moderno CCZ, com verbas do Governo Federal, acenando para a possiblidade de que verbas federais sejam buscadas para a solução dos problemas atuais de São Paulo, na área de controle animal.

Outro assunto abordado pelo médico-vereador foi a estranheza que sente em relação a uma situação presenciada em uma praça de Santo Amaro onde “apareceram” dois sagüis, que vem sendo alimentados pela população. “Esta comissão deve discutir também este problema”, afirmou. E o vereador Tripoli lembrou que “a comissão pretende, como o próprio nome diz, debater problemas de todos os animais, sejam eles domésticos, domesticados, silvestres nativos ou exóticos. “Para melhor ordenar os trabalhos, iniciamos com os domésticos, mas com certeza vamos debater os silvestres”.

LEISHMANIOSE, AMEAÇA REAL

Alguns representantes da sociedade civil organizada também manifestaram-se. O coordenador do Projeto Focinhos Gelados, Fowler Braga, frisou que “o CCZ precisa chegar ao século XXI, em muitos sentidos, inclusive em relação ao registro de informações, que ainda permanece no século XIX”.

Fowler afirmou ainda que “não tem mais cabimento esse amontoado de papéis, que se perdem, que não geram estatísticas, nada. Nessa linha, o Poder Público também deve modernizar o RGA – Registro Geral do Animal, passando a microchipar todos os cães e gatos da cidade, processo com custo absolutamente factível atualmente”.

Outra preocupação do coordenador do Focinhos Gelados é com o avanço da leishmaniose, uma zoonose gravíssima, que chegou a cidades do entorno de São Paulo e podem existir casos na Capital, apesar da falta de relatos oficiais. “Em vários pontos do Brasil e mesmo em cidades do interior de São Paulo, centenas de milhares de cães já foram sacrificados nos últimos 10 anos e temos que tomar cuidado para que se esta zoonose não se transforme em mais uma “caça às bruxas de cães” em nossa cidade. Com certeza, ela já chegou, com certeza ela vai se disseminar”, alertou Fowler.

“O que incomoda, lembrou o coordenador do Focinhos Gelados, é este silêncio absurdo do Ministério da Saúde e dos órgãos municipais que deveriam fornecer amplas informações para a população. Não se fala da doença, não se fala dos direitos e obrigações dos proprietários de cães. Assim, eu sugiro que esta Comissão ouça especialistas, que a cidade se prepare para a doença, porque ela já chegou”.

O vereador Natalini interveio: “muito bem lembrado, senhor Fowler. A leishmaniose é mortal para humanos, pois o tratamento não é fácil e nem simples; o diagnóstico é difícil, a doença é complexa. Em 1999/2000, esta doença já vinha se expandindo no Estado de São Paulo, por conta da destruição de habitats naturais e o aumento das monoculturas, e as populações humanas cada hora mais próximas das matas, convivendo com os hospedeiros da doença”.

SILVESTRE NÃO É
ANIMAL DE ESTIMAÇÃO

A médica veterinária especialista em fauna silvestre, Dra. Angela Maria Branco, coordenador técnica da ONG Pró-Animal, manifestou-se afirmando que a questão apontada pelo vereador Natalini é bastante pertinente: “a venda de animais silvestres como animais de estimação vem provocando solturas indevidas, com sérios problemas para o equilíbrio ambiental, para a saúde pública e com graves prejuízos para a fauna”.

A intervenção bastante oportuna da médica veterinária deixou evidente que animais silvestres não são animais de estimação, sejam eles comprados legalmente ou não. O animal silvestre pode transmitir dezenas de zoonoses para as famílias que os abrigam, além dos maus-tratos que o alojamento indevido implica. Sagüis, papagaios, araras, tucanos, pequenos felinos selvagens, passeriformes nenhum deles deve vivem em cativeiro doméstico.

Segundo Branco, pode-se avaliar a saúde do meio ambiente conforme a fauna silvestre nele presente; e a ausência da fauna ou os agravos impostos aos silvestres pela população humana são medidas da falta de saúde ambiental.

Estava presente também à audiência pública a representante do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e presidente da ONG Tribuna Animal, Altina Mabellini, que entregou ofícios enfatizando a importância da iniciativa do vereador Tripoli, de implantar na maior Câmara Municipal do País esta Comissão de Estudos, num momento tão crucial para a defesa dos animais em São Paulo.


OS PRÓXIMOS PASSOS

Nesta reunião, os vereadores decidiram ainda formar uma força-tarefa para vistoriar pet shops, de uma lista de estabelecimentos já denunciados, tanto à Comissão quanto ao Poder Público, por protetores de animais e, mesmo, pelo Vereador Tripoli, desde o ano passado. A vistoria ficou combinada para o dia 30 de março e o vereador Tripoli solicitou, oficialmente, que fossem chamados para compor a força tarefa representantes da COVISA/CCZ, Secretaria das Subprefeituras e o setor de fiscalização do CRMV-SP.

A Comissão deliberou, ainda, convidar o Presidente do CRMV-SP, Dr. Francisco Cavalcanti de Almeida, e o presidente da Anclivepa-SP, Dr. Marco Antonio Gioso, para palestrarem na reunião do dia 1 de abril, abordando assuntos relativos, inclusive, à participação, fundamental, dos médicos veterinários em questões que envolvem o controle animal na cidade.



(Texto: Regina Macedo / jornalista ambiental; Foto: Juvenal Pereira)


Gabinete do Vereador ROBERTO TRIPOLI  (PV)
Presidente da Comissão de Estudos para
Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos,
Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a
População Humana, os Reflexos na Saúde Pública
e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo

Fone - 11-3396-4463




São Paulo, 25 de março de 2009.
 
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